quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Porque o corpo é a alma

interdependência e unidade
entre matéria, consciência e energia


Depois que participei do encontro da OSTI, no mês passado, com a palestra O Corpo é a Alma, fui objeto de questionamento da parte de algumas pessoas — mais exatamente espiritualistas — que não concordam com as minhas assertivas, de que não há oposição entre corpo e consciência e que, portanto, ao massagear o corpo das pessoas, eu os estou tocando também psiquicamente.

A base desse questionamento — aliás saudável, como todos os questionamentos — é a idéia dos espiritualistas (ou neo-espiritualistas?) de que o corpo é cópia da alma, assim como tudo o que é material seria cópia dos níveis invisíveis e sutis de manifestação. Não me surpreenderia se, ao me questionarem, esses mesmos amigos tenham colocado em dúvida também o caráter hermético que atribuo a esses pontos de vista que propus, uma vez que, ao propô-los, não estou inventando nada de novo, mas apenas buscando recuperar o paradigma hermético aplicado à prática terapêutica em geral, e às terapias corporais em particular. Ou seja, procurando recuperar as nossas tradições em favor de nossa cultura, assim como, em outras culturas, as tradições sapienciais são não apenas mantidas, como também dão essência aos processos curativos e trazem ainda mais alcance às terapias, maravilhando-nos, enquanto deixamos de lado nossas próprias possibilidades e nossa herança, como se não as tivéssemos.

Acho importante frisar que concordo com o axioma que diz ser o corpo cópia da alma. Apenas penso que não devemos levar essa afirmação tão assim ao pé da letra. Por isso prefiro considerar o corpo como manifestação da alma, porque ele é a sua cópia no que há de essencial na natureza anímica, e não no sentido de a alma ter, ela própria, formas tais como braços, mãos, olhos, boca, etc, que possam ser repetidos no corpo. Há correspondências, sim (e é isto que pode trazer um alcance ainda maior às nossas práticas terapêuticas), mas não semelhanças.  É mais ou menos como o exemplo que costumo dar em minhas palestras, e do qual me utilizei inclusive nessa mais recente. Nesse exemplo, eu mostro que

e

são a mesma coisa.  As duas figuras são a mesma página de um site que animei durante alguns anos (e que não existe mais), apenas em diferentes manifestações, ou linguagens. A primeira, no modo imagem, a segunda, no modo code (HTML). Aqui fica bem claro que um é o outro, que ambos são a mesma coisa, em diferentes níveis ou linguagens, em formas diversas de manifestação, e não duas coisas justapostas, ou “uma dentro da outra” como o neo-espiritualismo costuma considerar as relações entre corpo e alma.

Da mesma forma que ocorre na informática (que, de resto, foi criada pelos humanos copiando a si mesmos) o Ser é uno e apresenta duas diferentes manifestações de si próprio, para perceber-se em diferentes reinos (denso e sutil), de acordo com as características particulares de cada um deles. É assim que poderemos aplicar a idéia do Anthropos teleios  — o homem perfeito, o homem arquétipo (homem aqui no sentido de “humano” e não apenas masculino) — que a tradição judaica apresenta como o Adão Kadmon, e que simboliza o Ser (masculino e feminino) inscrito no Universo:
Adão Kadmon, o Ser arquétipo

O Adão Kadmon, ou Antropos teleios confunde-se, assim, com a totalidade das coisas e, portanto, pode ser considerado como sendo feito da mesma substância dessa totalidade das coisas. É por aí que, na minha leitura, evidencia-se o axioma hermético, que diz Assim como é em cima, é embaixo, e arremata com O Universo é mental. Sendo mental o Universo, não há como haver oposição entre corpo e psique, ou entre matéria e energia, uma vez que, longe de serem coisas que se contraponham, mostram-se mais apropriadamente como a mesma coisa, manifestando-se de diferentes formas, mas em termos de densidade e sutileza, e não em termos de oposição entre si.

Ao perceber que toco o sutil, pelo meu trabalho sobre o denso, não estou sendo original, nem estou sozinho nessas considerações. Estudiosos e terapeutas como Anick Souzenelle e Jean-Yves Leloup abordam isto em seu trabalho, e cada um deles apresenta pelo menos um livro dedicado a essa práxis, nos quais estabeleceram estudos a respeito das relações entre as partes do corpo humano e a psique, assim como as suas conseqüências no tocante às questões da saúde e da doença. Souzenelle, por exemplo, trata dessa questão em O Simbolismo do Corpo HumanoDa árvore da vida ao esquema corporal (São Paulo, Pensamento, 1995), quando faz um paralelo entre o corpo humano e o corpo divino, baseando-se na cabala e na inserção do Adão Kadmon na Árvore da Vida. Sua construção [a do corpo humano] deve obedecer ao esquema ontológico das estruturas divinas, diz a psicoterapeuta.

De seu lado, em suas análises simbólicas do corpo humano, Leloup, autor do admirável O corpo e seus símbolos – uma antropologia essencial (Petrópolis: Vozes, 2001), lembra a prática de se lavar os pés dos discípulos, presente entre certos grupos sufis e também no Cristianismo, atribuída a Jesus. Leloup assinala que a manipulação dos pés está vinculada à devolução do prazer àquele que sofre, e à doação de força e energia, da parte daquele que lava os pés, ajudando aquele que tem os pés lavados a colocar-se novamente de pé, a fixar suas raízes e sua base, para prosseguir:
Quando Jesus está aos pés de seus discípulos, não é apenas por um gesto de humildade, mas é, também, como um gesto de cura e de amor. Porque não se pode amar alguém e olhá-lo de cima. E também não se trata de olhá-lo de baixo para cima, sendo-lhe submisso. Trata-se de colocar-se a seus pés para ajudá-lo a reerguer-se

 A ciência de ponta veio ao encontro desse postulado, por meio de Sir James Jeans (falecido em 1946), astrônomo, físico e matemático inglês, que declarou, em seu livro Mysterious Universe, que o universo começa a parecer mais um grande pensamento do que uma grande máquina.  Assim, Jeans constrange em profundidade o paradigma científico vigente, e percebe consciência e corpo, ou energia e matéria não como coisas opostas e/ou conflitantes, mas como duas fases diferentes de uma mesma unidade.

O símbolo da manifestação triádica (que inclui a setenária e a dualista) da mônada que é o Ser, dá-nos apropriadamente os elementos de ponta para refletir a respeito dessa unidade entre corpo e alma, ou, mais apropriadamente, entre corpo, psique e essência, ou ainda matéria, consciência e energia:

Nos três aspectos principais — que o símbolo apresenta como corpo, alma e espírito — estão presentes os antigos componentes do Ser, para os egípcios de determinado período, que era a interação entre o Ka (corpo), o Khou (a substância inteligente) e o Ba-bai (a essência luminosa). Da interseção entre esses três aspectos, deflagra-se a manifestação de mais quatro, completando a visão septenária do ser (além da triádica, que coloco aqui). Incluída nessas possibilidades, está também a concepção dualista, que se atém apenas às faces densa e sutil da natureza da mônada que é o Ser.

Importante considerar que essa interpendência, ou, mais, essa unidade do Ser, indivisível, como é por natureza a mônada, inclui não apenas a influência do sutil sobre o denso — da alma sobre o corpo — mas também o contrário, a influência direta do denso no sutil, ou do corpo na alma. A elaboração da identidade pessoal de cada um de nós, a construção da pessoa, para citar Mauss, é, dentre outras, uma forte indicação dessa dialética, na medida em que se não temos consciência de nós mesmos, não construímos a pessoa que estamos constantemente vindo a ser. E que sem o exercício consistente e ativo da corporeidade, não poderemos desenhar autoconsciência. Retomemos  o simbolismo da unidade entre os modos código e imagem, da página na Internet


e será mais fácil compreendermos essa interação dialética, se atentarmos ao fato de que, caso mudemos algo na linguagem alfanumérica da página em seu modo code, ou HTML, mudaremos automaticamente a aparência da página, em seu modo imagem. E, ao contrário, se conseguirmos interferir no modo imagem, de alguma forma, isso se refletirá na sua versão code.

Por isso eu digo que o corpo é a alma. Ao trabalhar os corpos de meus clientes, fisicamente falando, estou tocando suas almas. É claro que ao colocar alguém na maca, sob meus cuidados, estou atendendo a um pedido relativo a necessidades físicas, e não me passa pela cabeça tratar diretamente das questões psíquicas daquele que me confia o seu corpo. É à queixa do cliente, ou à indicação do médico, ou do fisioterapeuta, que vou me ater, para realizar o meu trabalho. Da mesma forma, um psicoterapeuta não considerará tratar o corpo de seu paciente, uma vez que é a psique deste que constitui-se no objeto de sua atenção e seus cuidados. No entanto, assim como o psicoterapeuta sabe que muito do que ele pode perceber na psique de seu paciente é desenhado pelo corpo, e que, assim, ele está indiretamente trabalhando o soma, os massoterapeutas e terapeutas corporais em geral têm (ou deveriam ter) consciência de que, ao manipularem os corpos de seus clientes, estão lidando também com a fase sutil daquele mesmo ser.
Jeans: "o universo como pensamento"

Assim, a interdependência, a unidade do Ser pede a todos nós, terapeutas de várias áreas, que trabalhemos atenta e preferencialmente aquilo que nos foi confiado, mas estejamos abertos ao fato de que estamos lidando com algo além disto. Que estamos cuidando do Ser por inteiro.
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Sou Marco Antonio Coutinho, massoterapeuta formado pelo Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação, IBMR (Registro Anvisa fls 40V, Livro 15.77756). Atendo no IBHEP, Botafogo, e no Instituto Dharma,  Copacabana. Atendo também em domicílio. Trabalho com ênfase na massagem sueca, por uma abordagem energética, com o apoio das terapias complementares e práticas terapêuticas manuais alternativas.

·         Local: IBHEP, Botafogo, Rio de Janeiro ou atendimento em domicílio

Informações e marcação de atendimento: (21) 2542.1418 ou escreva para massotherapeuta@gmail.com. Deixe seu nome, recado e telefone, para retorno.

·         Local: Instituto Dharma – Copacabana, Rio de Janeiro.

Informações e marcação de atendimento: (21)2255-4958 ou (21)8612-5574



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